Por: Pedro Medula,
Curitiba, 17.06.2013, 18horas. Saio do meu trabalho, ando duas quadras e estou na Boca Maldita. Eu e mais alguns milhares de pessoas. Objetivo? Mudar o País! Em apoio a um movimento nacional contra o aumento da passagem, os pedidos do povo são vários: educação, saúde, transparência, menos corrupção, entre outros. Como diziam alguns cartazes: "Não são apenas 20 centavos".
Além de participar deste apoio, fui preparado para fazer a cobertura deste momento histórico em nosso país, fotografando e filmando tudo o que conseguia. A quantidade de pessoas era absurda, nunca vi nada igual em Curitiba. Mais impressionante ainda, era a educação e vontade do povo de fazer a manifestação de forma pacífica. Entre os populares, ouvia-se em alto e bom tom: "SEM VIOLÊNCIA" e "SEM VANDALISMO".
Uma minoria extremista tentava macular e deturpar a vontade da grande massa. Na Praça Rui Barbosa, tentaram bloquear a passagem de um ônibus e foram contidos pelos populares, que liberaram o ônibus para seguir. O clima era de paz e exemplos de cidadania era dados em vários momentos, mesmo os que estavam parados nos carros, devido ao trânsito impedido, buzinavam e gritavam em apoio ao movimento. Na praça Santos Andrade, eram algumas mil pessoas reunidas e, mesmo assim, percebia-se o exemplo. Pasmem, tudo estava tão pacífico que o povo nem pisava na grama. Sim, até mesmo a grama era preservada. No Palácio do Iguaçu, destino final do Ato, todos se reuniram e cantaram o Hino Nacional, seguido de vários atos de manifestação ordeira. Até que o mesmo grupo extremista de antes começou a "atacar" o Palácio do Governo.
Muitas pessoas se deslocaram até o local para ver de perto o que estava acontecendo. Quando cheguei lá, filmando todo o ocorrido, os extremistas já haviam quebrado uma porta e estavam dentro, quebrando o que conseguiam. Todos voltaram a gritar "SEM VANDALISMO" e conseguimos conter este ato e retirar os vândalos do local, já que a polícia não estava presente no local. Aliás, em nenhuma parte do percurso houve a presença da polícia, o que não é uma crítica, apenas um relato. O mesmo grupo pichou a parede do Palácio do Planalto com a inscrição: "GOVERNO FASCISTA". Em poucos minutos, com uma rapidez invejável, um grupo, com baldes, escovas e sabão, estavam fazendo a limpeza da parede pichada. Exemplo de cidadania. O mesmo grupo baderneiro continuou chutando as paredes e o portão de acesso ao Palácio, que parecia que iria ao chão a qualquer momento.
Aos poucos o número de pessoas foi diminuindo e decidimos ir embora. Quando estávamos a uns 400metros do palácio ouvimos uma explosão. Gente correndo, fumaça, barulho. Era a Tropa de Choque, saindo de dentro do Palácio para proteger sua entrada. Não contive minha vontade de registrar este momento e voltei para fotografar. Mesmo temendo levar algum tiro ou algo parecido, vide os relatos de outras manifestações, me aproximei. Logo estava ao lado da Tropa de Choque. Em seguida estava atrás deles, junto com toda a imprensa acompanhando a atuação da polícia que, diga-se de passagem, atuou de forma exemplar, apenas protegendo o patrimônio público e sem excessos. Em dado momento, vimos uma movimentação da polícia, trazendo algumas pessoas presas. Na hora achei muito bom! Teriam pego os vândalos que insistiam em deturpar o ato. A justiça estava feita. Mas, para minha surpresa, vejo um amigo pessoal, com quem havia conversado há cerca de 10 minutos e cuja atitudes posso afirmar com convicção, são totalmente pacíficas.
Fotografei meu amigo e relatei a situação a um oficial no local, informando que deveria tratar-se de um engano. Logo um outro oficial me abordou de forma rude e em alto e bom tom proferiu as seguintes palavras: "TA TUDO REGISTRADO, NINGUÉM INOCENTE VAI PRESO, ESTAVAM FAZENDO COISA ERRADA." Não discuti e busquei informações com outros oficiais. Fui muito bem atendido, inclusive pelo Coronel Responsável pela operação, que me informou que tudo deveria ser averiguado conforme os ditames da lei. Ciente da legalidade, segui a cobertura fotográfica e conversando com algumas pessoas da imprensa. Inclusive, em minha volta pra casa, dividi o táxi com a Jornalista da Folha de São Paulo.
Depois que cheguei em casa, tentei contato por telefone com aquele meu amigo que relatei ter sido preso em suposto flagrante, cuja índole e postura afirmo serem totalmente pacíficas. Pois bem, consegui falar com ele, que relatou estar chegando no 1o DP, em frente ao meu prédio. Troquei rapidamente os cartões de memória de minha máquina fotográfica, que estavam cheios, e filmei, de minha janela, a chegada dele e de mais 4 ou 5 pessoas, em duas viaturas policiais, vulgo "camburão". Com fome, comi algo rapidamente e postei no facebook uma foto da atuação da tropa de choque, mostrando as costas dos policiais e , do momento em que estávamos fazendo a cobertura, já por trás da tropa de choque. Em seguida, desci até o 1º DP a fim de me oferecer como testemunha ou oferecer alguma ajuda a meu amigo, caso fosse possível. Busquei orientações com alguns policiais em frente o Distrito, que foram muito solícitos, inclusive até riram, de forma respeitosa, dizendo que: "ele deve passar a noite ali esperando, já que tudo é bem demorado".
De repente, para minha surpresa, sai da delegacia um policial à paisana me pega pelo braço e me da voz de prisão: "O senhor está preso, você estava lá e foi identificado como vândalo também." Sem entender nada, fui conduzido para dentro da delegacia. Entrego minha máquina fotográfica e me identifico, tudo dentro do protocolo, suponho. Lá estou, detido em uma sala do 1º Distrito Policial (que vejo todo dia da janela de meu apartamento). Éramos 7 os detidos na sala, destes, 4 fotógrafos. Todos desnorteados, entendemos bem o significado da expressão: "Seria cômico se não fosse trágico". Tudo parece muito absurdo. Quando a imagem da repórter que levou um tiro no olho e de todos os outros abusos policiais me vêm à mente e percebo que, sim! Tudo têm sido um absurdo muito grande!
Junto a isso a pergunta de todos era: "Cadê os verdadeiros vândalos que derrubaram os portões do palácio do governo? Por que nenhum estava ali?" A pergunta em minha cabeça era muito clara: "Ora, como posso atirar objetos nos policiais enquanto ando em meio a eles fotografando sua atuação? Isso não faz o menor sentido!". Pra minha sorte tenho fotos e vídeos, mas e se não os tivesse? Não sei ao certo quanto tempo ficamos ali. Mas tiraram fotos de nossos rostos e a cada pouco um nome era chamado pra responder alguma perguntado.
Em dado momento sou chamado e encaminhado à sala do escrivão. Respondo algumas perguntas e logo tenho em mãos um Boletim de Ocorrência, o famoso B.O. O problema era que, neste B.O., eu sou o suposto criminoso! Acusado de atirar pedra nos policias que fotografei pelas costas. Se eu não tinha nada programado pra agosto, agora já tenho: dia 08.08.2013, às 14:30, uma Audiência Preliminar, referente aos fatos noticiados. E, quanto a minha câmera fotográfica, os policiais me pediram para orientá-los como ligar e como ver os arquivos, mas, ressaltaram que nada seria apagado. Quando ela foi devolvida (só conferi em casa) o cartão de memória estava vazio. Por sorte, como eu tinha trocado o cartão quando vim pra casa, havia apenas dois vídeos que fiz das viaturas chegando. Do contrário, poderia ter perdido toda uma noite de trabalho e momentos únicos na história do País. Como não tenho como provar, me resta lamentar pela atitude dos policiais. Aos policiais que agiram corretamente, a maioria, meus parabéns. Aos policiais que prenderam os caras errados, minhas lástimas. Todos que lá estavam, viram perfeitamente quem era os vândalos, e nenhum deles estava naquela Delegacia ontem. Uma pena, poderiam ter feito um bem pra sociedade. Certamente todos que estavam lá lutando por um País melhor se orgulharia de vocês. Infelizmente, não foi o que aconteceu!
À todos os policiais, suplico:
Como Servidor Público e como Cidadão, nunca esqueçam de seu dever maior como Servidores Públicos: Servir ao povo! Vocês detêm muito poder em suas mãos e isso tem que ser usado para fazer o bem. Sejam pelo bem, sejam pelo certo! Só quem passa por uma situação constrangedora de receber uma voz de prisão injustamente sabe o que isso significa.
À toda a população, suplico:
Não desistam desta luta! O Brasil precisa mudar! O País é nosso e temos que lutar por ele! Temos que lutar por tudo que há de bom nesta vida! Lutar pela felicidade de todos! Finalmente, em um momento muito difícil em minha vida, preciso registrar, emocionado:
MÃE, você que sempre me ensinou a ser um homem bom, justo e honesto, que me deu educação e valores para pautar minha vida em atitudes conscientes, que me ensinou a respeitar o próximo e a buscar sempre fazer o bem, me ensinou a assumir minhas responsabilidades, me deu educação e exemplo para estudar conquistar o minha independência. Você que me ensinou a sempre buscar a felicidade, que sempre quis me ver feliz. Você que me fez um homem que se orgulha de sua história. Me desculpe, mas hoje vou te ligar e te dizer: "MÃE, ONTEM EU FUI PRESO".
Resta a dúvida: Terei eu sofrido uma injustiça ou serei eu um deus onipresente, para estar atrás da polícia tirando fotos e na frente dela jogando pedras?
Pedro Henrique Ribeiro Barboza, 29 anos, Servidor Público Federal, Administrador, Skatista Profissional, Atleta da Lei de Incentivo ao Esporte da Prefeitura de Curitiba, Membro da Confederação Brasileira de Skate, Fotógrafo e PRESO NA NOITE DE ONTEM (18/06).
*Quem puder compartilhe e divulgue livremente, abri mão da minha privacidade em prol do bem comum. Estas informações precisam chegar a todos! A injustiça é feita em várias esferas da sociedade! Outros podem ser presos injustamente em manifestações futuras e é preciso que saibamos que a afirmação de quem é ou não é culpado pode ser muito deturpada. Hoje, os culpados pelos crimes de ontem estão livres e eu tenho uma audiência pública em agosto. Seria cômico, se não fosse trágico.