“Próximo” é o vídeo independente que o skatista profissional Igor Calixto está lançando com exclusividade em parceria com a Tribo Skate.
O vídeo é dedicado a mãe e o irmão de Igor, que faleceram recentemente.
Assista ao vídeo e leia a entrevista com o brasiliense
Por Sidney Arakaki
Como foi a première do “Próximo” semana passada?
Conseguimos reunir uma premiação legal. A gente ficou até surpreso, porque veio muita gente. Foi muito bom, fiquei surpreso com a quantidade de gente que colou. Conseguimos colocar um som com algumas parcerias da federação de skate aqui de Brasília. Forneceram som, forneceram obstáculos ali no Bancário. E fizemos várias brincadeiras.
E no começo da noite rodei o vídeo ali. Botamos umas cadeiras e rolou na área central do Bancário mesmo. Foi bem legal.
Na verdade, você está lançando duas partes simultâneas. Tem essa, o “Próximo”, e na semana que vem o da Simple. Qual a diferença, quais os critérios pra separar as manobras pros projetos?
Exato. Em abril a gente finalizou as filmagens da Simple. Foi o ‘dead line’ que o Leo Coutinho – que está editando; falou que a partir daquele momento não era mais pra enviar imagens. No final de julho eu fui na Simple pra assistir minha parte e tinha muitas coisas boas que tinham ficado de fora. Perguntei pro Leo por que ele não ia usar e ele disse que era pra não deixar muito grande o vídeo. O bruto que ele colheu ali da edição da Simple já tinha mais ou menos 3 minutos e 40 segundos, da edição que ele fez. E ele achou melhor não prolongar. E eu assisti e curti também. Essas imagens que sobraram, eu estava indo viajar com o (Pedro) Iti pra Campo Grande. A gente ia filmar mais lá, e nesse meio tempo eu tive essa ideia das imagens que tinham sobrado e eram boas, e também filmando os dez dias que fiquei em Campo Grande, eu devia ter um material bom pra lançar outra parte. E a diferença é que a parte da Simple, na verdade, é uma parte mais completa. Tem cara de vídeo grande, de ‘full length’. Me esforcei mais, desci corrimão, escadas, tudo isso. E o “Próximo” foi legal também que eu tive um material do skate que eu gosto de assistir, de ver alguma coisa mais técnica. Com mais bordas, mais manuals, essas coisas. É o skate que eu me identifico. Mas o da Simple é uma parte bem mais completa. Na verdade, acredito que é uma parte diferente do meu skate. Me puxei de uma forma pra deixar ele mais completo.
Esse vídeo se chama “Próximo” por que?
São diversos fatores que se unem. O principal, por ser dez dias antes do vídeo da Simple. Próximo por estar perto do vídeo da Simple. Próximo por estar fechando um ciclo, que fui amador por bastante tempo. O vídeo meio que sela isso, que o vídeo da Simple é o meu primeiro como profissional pela marca. Vão sair os pro-models. E também por ter sempre o desejo, dizer “esse vídeo fica pro próximo”. Porque eu queria filmar tal coisa. E aí, meio que faz essa semelhança, com esse tipo de ideia, de sempre ficar pro próximo. Então o Próximo é sempre o próximo passo.
Você viajou bastante pra produzir os vídeos.
Na verdade, pro Próximo foi uma viagem já específica. Pra Campo Grande, eu já tinha uma ideia de filmar pro vídeo Próximo. Mas pros dois vídeos eu viajei bastante. Aqui no Brasil eu viajei pra Belo Horizonte, Cuiabá, São Paulo, Goiânia. E pra fora, tem imagens em Paris, Barcelona e na Suíça.
Backside nollie switch k-grind em Barcelona. (Paulo Tavares)
Você é um cara que sempre viajou bastante pra andar de skate.
Desde que eu tive a consciência de que eu moro numa cidade que é fora do eixo do skate, na verdade. A gente tem os melhores picos aqui em Brasília. Muitos picos bons, muitas marcas fazem tours pra cá, pra explorar os picos. Sempre foi muito bom pra andar de skate aqui. Mas a gente é meio esquecido no centro-oeste. A gente, na verdade, precisa dessa movimentação. Eu já cheguei a ficar bastante tempo seguido em São Paulo, numa época que eu tive patrocínio de uma marca de São Paulo. Então eu fiquei um bom tempo, cerca de um ano sem voltar pra Brasília. Mas eu gosto muito de andar de skate aqui. Então eu preferi estar viajando do que fixado, entende?
Entendi. Mas dizem que Brasília é a cidade do Brasil com mais picos de rua. Você considera isso também?
Eu considerava, mas depois que eu fui pra Campo Grande, eu tenho minhas dúvidas. Porque Brasília é muito bom pra um tipo de skate. A gente tem uma área que são os eixos Sul e Norte, Asa Sul e Asa Norte, que tem uma área de comércio muito grande. Por exemplo, são 16 quadras que se dividem em quatro. Cada quadra tem quatro blocos de comércio. E nesses quatro blocos são muitos picos. Tem muitas escadas e muitos corrimãos. Então, pra esse tipo de skate específico. Mas aqui a gente não tem tantas bordas, alguns picos técnicos. Mas pra esse tipo de skate de pulo, de corrimão, é muito bom.
Você carrega essa característica dos picos de Brasília?
Cara, eu acho que hoje em dia não. Engraçado é isso, eu gosto de assistir um tipo de skate, de ver uma galera de uma forma, mas na hora de andar, eu me identifico com outro, que é o skate mais técnico. Acho que talvez pelo tempo que eu passei em Barcelona, de andar muito em borda, no solo. Até mesmo no Bancário, que eu gosto de fazer muito solo. Mas só quando eu tô realmente focado pra um objetivo, como foi pro vídeo da Simple. Eu queria ter uma parte bem completa mesmo, pra ter pulos e corrimão também. Eu não acho que eu me identifico tanto com esse skate.
E quem te influencia, que você gosta de assistir?
Eu assisto bastante Anthony Van Engelen. Os caras que eram do time da Alien Workshop, eu gosto bastante de ver, Gilbert Crockett. Eu gosto de ver os caras que andam rápido, andam nos picos diferentes. Mas na hora de andar, pelo prazer de algumas manobras, eu gosto de bordas, manual, solo.
Backside flip em Cuiabá. (Diego Almeida)
Quando você começou a falar que anda de um jeito e gosta de assistir outro, já me lembrei do Anthony Van Engelen. De alguma forma, lembrou um pouco seu skate e o dele.
Falando em Alien Workshop, você é um cara que se interessa bastante por artes gráficas. Você trabalha com isso?
Eu trabalho voltado pro skate. Quando algum amigo precisa de uma arte, produzir uma coleção pra uma loja de skate, de roupa. Mas eu gosto de fazer umas paradas mais voltadas pro skate. Até lanço umas ideias ali na Simple. Por mais que a maioria não entre porque já tem os designers da marca. Eu faço freelance quando surge, mas eu não trabalho fixo com as artes.
Você estudou?
Eu me formei em design gráfico em 2011.
Em Brasília mesmo?
Isso, em Brasília. Na verdade, eu fiz um curso intensivo, de manhã e de tarde. Eu queria acabar rápido, pra poder ter tempo livre pra andar de skate. Eu estudava pela manhã e pela tarde.
E esse curso foi influenciado pelo skate?
Não. Por incrível que pareça, não. Eu sempre desenhei, na verdade. Eu me identificava, mas quando eu comecei a fazer o curso não tinha conhecimento nenhum de design. Eu só gostava de desenhar, fazer graffitti e tal. Eu fui por influencia de uma ex-namorada, a família dela meio que pesava na minha pra eu ter uma formação. E eu fui pesquisando algo que tinha a ver comigo. Encontrei o design, e na primeira semana do curso eu curti muito e achei que era a minha cara.
Na cultura do skate você acompanha bastante coisa desse lance de design?
Acompanho tudo. Na verdade eu gosto de ver desde os anúncios das marcas, até cada coleção. As primeiras visitas do dia em sites é saber o que as marcas estão fazendo de coleção. Tem um site que lança todos os lookbooks, as paradas das marcas, todos os dias. Diariamente eles postam de alguma marca. Eu acompanho os artistas que também colaboram.
Mas você acompanha mais esse lado comercial ou lado cultural também?
Acompanho os dois. Eu vejo o lado comercial pra saber o que está acontecendo na rua, o que está saindo, o que a galera está usando. Mas, do lado cultural, eu já vou direto nos outros sites, que não agregam nenhuma empresa. Mais sites de design e arte mesmo.
Frontside pop shove it. (Wanderley Vieira)
E é uma área que você quer trabalhar algum dia?
Com certeza.
E o seu pro-model?
A gente tinha esse acordo de quando o vídeo da Simple saísse. Mas eu sou um cara bastante ansioso, e por esse fato, desde o começo do ano eu não perguntei mais nada. Como eu já sabia que tinha esse projeto de sair junto com o vídeo da Simple, eu não procurei saber mais nada. Pra ficar bem na surpresa mesmo. Mas a galera que trabalha ali dentro diz que já viu alguma coisa.