Por. Fernando Torelly
Por sugestão de um amigo assisti recentemente o documentário The Motivation, sobre os bastidores da final Street League de 2012. De cara falo logo que o formato de campeonato deles em nada me atrai, na real, até me incomoda. Mas que se foda o que eu penso, o skate de hoje é a porra de um supermercado, cheio de opções, e pros velhos chatos e saudosistas como eu, ainda há Tampa por exemplo. O lance que me chamou mais atenção, e digno de um texto, nesse doc foi a história do Nyjah Huston, Ryan Scheckler (mais conhecido no Brasil como Bruno Scheckler) e suas famílias.
Garoto prodígio, o mais talentoso no meio de uma penca de irmãos, pai abusivo e louco, que trata como ganha-pão da família o que deveria ser divertido. Dyrdek compara o genitor de Nyjah a Earl Woods (pai de Tiger Woods), mas o que eu vejo ali é versão rasta do filha da puta do Joe Jackson. Sério, troca os dreads pelo black power, skate pela música e você tem a história de vida do Michael Jackson. Agora emancipado e dono de si, espero de coração que ele não perca um pedaço do nariz em um comercial da Monster, comece a clarear a pele e ofereça “suco de jesus” pra garotada.
Se Nyjah Huston é o Michael Jackson, Ryan Scheckler é o Justin Timberlake. Com seu par de olhos azuis que deixam as adolescentes produzindo suco vaginal aos litros, ele talvez seja o primeiro grande exemplo do que uma skate mom, Digo, até reality show na MTV o galego teve! No documentário dá pra sacar a pressão e tensão em cima dele. Sem sacanagem, eu senti desconforto por ele quando reclama da altura dos obstáculos. Eu sempre achei as paradas da Street League desnecessariamente altas, mas eu sou um cagão. Ver um pro entre os pros, um moleque que ganha por mês mais do que a receita do município onde eu nasci, se queixar dos bagulhos me fez perguntar se por acaso Dyrdek arriscou a bunda milionária dele antes, pra ver se era seguro.
A minha impressão geral é que talvez essa geração do Nyjah e Scheckler seja a última a ter contato com a rua, a desbravar lugares, conhecer a cidade. A coisa tá asséptica demais, é tudo muito limpo e seguro, é do carro pro skatepark, do skatepark pro carro. A próxima geração talvez nunca saiba o que é roubar compensado pra fazer rampa, transformar um ambiente abandonado pela sociedade e governo em pico. Com isso vai morrer a criatividade, o inusitado, o horizonte mais amplo. Mas isso é uma discussão antiga, sobre até ponto podemos sacrificar nossa liberdade em troca de segurança.
Creio também que se isso acontecer, o Brasil será a salvação disso tudo, afinal, poucos garotos ganham carros dos pais e lugar seguro é algo muito difícil por aqui.
Eu recomendo o documentário para quem gosta e não gosta da Street League, vale a pena ouvir o que os caras que a fazem tem a dizer. Agora, não posso deixar de comentar a fã baranga do Rob Dyrdek, cheia de tatuagens horríveis em homenagem a ele. De boa, se fosse comigo mandava o Big Black descer a porrada nela, essa doida ainda acaba invadindo a casa dele e cortando o pinto do sujeito fora.
Fonte: Vista