terça-feira, 21 de maio de 2013

Trocando Ideia! | Carta em resposta a Capa da Revista Isto É - Edição 2267

   Apresentamos abaixo, na íntegra, carta da CBSk Confederação Brasileira de Skate, dirigida ao Sr Delmo Moreira da Revista Isto É, com referência a polêmica capa divulgada há alguns dias.


Prezado Sr. Delmo Moreira
Redator chefe da Revista Isto É - Editora Três
REF.: Pedido de Retratação - Direito de Resposta 

   A Confederação Brasileira de Skate (CBSk), entidade regulamentadora do esporte Skate no Brasil, representante da International Skateboarding Federation (ISF) e World Cup Skateboarding (WCS), reconhecida pelo Ministério do Esporte, serve-se da presente missiva para repudiar a infeliz associação proposta por esta conceituada e respeitada editora na capa da edição nº 2267 da Revista "IstoÉ", onde se vê um jovem empunhando um skate em uma das mãos e uma arma de fogo na outra.

   Apesar do assunto ser pertinente, necessário e a reportagem ter primada pelo excelentíssimo, é importante informar que a imagem vinculada na capa, provoca a impressão totalmente equivocada dos praticantes do Skate serem adeptos do uso de armamento de fogo e/ou ligados à ações criminosas.

   É preciso observar que a prática de esportes impõe aos seus praticantes, o treinamento, dedicação, força de vontade, concentração, cuidados com o corpo e a mente, disciplina e respeito para com as regras e com as outras pessoas, além de ser instrumento eficaz de transformação de crianças e jovens em cidadãos exemplares e orientando-os para manterem-se longe das drogas e da marginalidade.

   Diverso estudiosos do comportamento de jovens e de seres humanos em geral, vêem no Skate, um poder incomparável de socialização, apesar deste ser considerado um esporte individual.

   Tanto é verdade que diversas ONGs, prefeituras e governos estaduais utilizam o Skate como forma de resgate de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade sendo as mais conhecidas a Manobra do Bem em Poá (SP) da ONG Social Skate, do sócio educador Sandro "Testinha" Soares, Coletivo Briza no Rio de Janeiro (RJ) do sócio educador Charles "Frajola" Silva, Esporte no Mangue promovido pela prefeitura do Recife (PE), Virando o Jogo realizado pela Prefeitura de São Paulo (SP), Inclusão Radical viabilizada pela Prefeitura de João Pessoa (PB), entre dezenas de outros exemplos espalhados pelo país que poderiam ser aqui citados.

   A ONG Social Skate, por exemplo, já executou por diversos anos, um projeto social com Skate na antiga Febem, hoje Fundação Casa, sendo que, segundo relato de diversos diretores e funcionários desta Fundação, nenhuma outra atividade era tão esperada e querida pelos jovens internos e tão bem sucedida em termos de mudança de comportamento dos mesmos. Chegando-se ao ponto em que alguns jovens, depois de saírem de lá, tornarem-se skatistas competidores e seguiram o caminho do esporte.

   Também é comum que em campeonatos de Skate pelo país afora, sejam arrecadados brinquedos, agasalhos e alimentos para instituições de caridade além da realização de campanhas de conscientização ambiental.

   Através de pesquisas encomendadas pela CBSk junto ao Instituto Datafolha em 2002, 2006 e 2009 foi constatado um crescimento meteórico do Skate, sendo que, registrou-se na última pesquisa, mais de 3,8 milhões de praticantes, número já ultrapassado e que, conforme estatísticas, deve atingir os 5 milhões na próxima pesquisa, que deverá ser realizada em meados de 2014.

   O Skate estava entre os sete esportes mais praticado no Brasil conforme levantamento feito pelo site "Atlas do Esportes no Brasil" em 2003 e pelo crescimento observado nos últimos 10 anos provavelmente deve ter saltado para os quatro maiores, sendo sem dúvida o segundo mais praticado pela juventude brasileira.

   O Skate brasileiro ocupa o 2º lugar no ranking mundial de número de praticantes, perdendo apenas para os Estados Unidos, criador deste esporte e com 20 anos a mais de história na prática do mesmo.

   Também contamos com diversos skatistas que se destacam no cenário internacional, inclusive como campeões mundiais, entre eles o bicampeão mundial de Vertical e tricampeão mundial de Megarampa, Bob Burnquist, o hexacampeão mundial de Vertical Sandro Dias, o também bicampeão mundial de Vertical Marcelo Bastos, os bicampeões mundiais de Street Carlos de Andrade, Rodil Ferrugem, Rodolfo Ramos e Kelvin Hoefler, o pentacampeão mundial de Downhill Slide Sérgio Yuppie, o campeão mundial de Downhill Speed Douglas Dalua, a bicampeã mundial de Street Feminino Letícia Bufoni e a bicampeã mundial de Vertical Feminino Karen Jones.

   Isso tudo sem contar as dezenas de medalhas obtidas por estes e outros brasileiros que nos representam anualmente no conhecido XGames, considerado como as Olimpíadas do Esportes “Radicais”.

   O Mercado Nacional de Skate fatura anualmente quase 1 bilhão de reais, criando mais de 50 mil empregos diretos e 100 mil empregos indiretos, gerando divisas consideráveis à nossa nação.

   Some-se a isso o fato de que em nosso país são realizados alguns dos maiores eventos de Skate do Mundo, sendo que, alguns deles são realizados apenas nos Estados Unidos e no Brasil.

   Todos esses dados colocam o Brasil na posição de segunda potencial mundial no Skate.

   Apesar de todo respeito que temos pelo revista em questão, sentimos muito tal associação do Skate com a criminalidade e sentimos como um duro golpe ao sério trabalho que é realizado há mais de 40 anos, por muitos brasileiros amantes desta modalidade e profissionais da área.

   Sentimo-nos muito prejudicados com esse fato e tememos por uma discriminação por parte de alguns segmentos da sociedade, além de nos preocuparmos com a retração que tal fato pode gerar nos investimentos em tal esporte.

   O que nos chama bastante a atenção e cremos ser o fato que causou tanto revolta na comunidade skatística nacional, é que não existe nenhum dado oficial, nenhuma pesquisa ou estatística que justifique essa associação de menores infratores e criminosos com a prática do Skate.

   Nesse sentido, solicitamos que Vossa Senhoria se digne a informar aos leitores da revista IstoÉ, com o devido destaque e de preferência através de uma ampla reportagem, que os skatistas não devem ser associados ao crime e à nenhuma prática delituosa, sendo um esporte benéfico à sociedade, gerador de emprego e impostos, utilizado como ferramenta de inclusão social além de engrandecer o nome do Brasil no exterior.

   Certo de poder contar com sua distinta consideração, nos despedimos respeitosamente.

Atenciosamente,

Marcelo Santos 
Presidente CBSk 

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